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A história do cinema das realizadoras portuguesas apenas começa, de forma sistemática, depois de 1974. O livro Realizadoras Portuguesas Cinema no Feminino na Era Contemporânea (2023), editado por Mariana Liz e Hilary Owen e publicado em Portugal pela Imprensa de Ciências Socias, reúne textos de investigadoras sediadas no Reino Unido, Estados Unidos da América e Portugal. Nele se discutem filmes de 14 realizadoras, considerando o cinema de ficção e documental produzido nos últimos 50 anos em Portugal. Os textos reunidos neste livro mapeiam as visões cinematográficas que estas autoras trouxeram para o cinema português na sequência da Revolução do 25 de Abril e da descolonização em África, e a forma como têm contribuído para a sua internacionalização. Neste “cinema no feminino” assistimos tanto a uma nova conceptualização do cinema nacional através, por exemplo, do cinema etnográfico realizado no final dos anos 1970, como à exploração de intervenções marcadamente de género em torno do mundo masculino das guerras coloniais. A partir dos anos 1990, assuntos políticos feministas, como a campanha em torno da descriminalização do aborto e do novo estatuto para a comunidade LGBTQIA+, a par de diversas preocupações relacionadas com problemas globais, como as migrações e a situação de comunidades minoritárias, assumem igualmente destaque. Os textos deste livro mostram também como as realizadoras têm contribuído para a evolução da linguagem cinematográfica, desde o trabalho desenvolvido na composição de som ao género do cinema-ensaio, da relação cinematográfica com o arquivo à adaptação da palavra escrita. Com um prefácio de Lídia Jorge, o livro resulta num desafio poderoso à marginalização do cinema das realizadoras portuguesas enquanto cinema duplamente minoritário, explorando, de forma positiva, os vários círculos de ferro que estas autoras têm vindo a romper.